sexta-feira, 18 de maio de 2012

Como tornar as cidades brasileiras mais sustentáveis?


Texto de apoio 


Os desafios da sustentabilidade em grandes cidades

A densidade demográfica em pontos específicos do globo não deixa dúvidas: o homem, por escolha, optou por áreas urbanas. É lá que estão as melhores oportunidades de emprego, saúde, cultura e lazer - e os maiores problemas. O desafio do momento é transformar esses grandes centros em locais sustentáveis e agradáveis de viver.

Ao contrário das cidades antigas, que eram muradas para evitar o ataque inimigo, as metrópoles de hoje crescem sem limites. (...) "As cidades absorveram quase dois terços da explosão populacional global e hoje o crescimento é de 1 milhão de bebês e migrantes por semana", afirma Mike Davis, professor da Universidade da Califórnia, no livro Planeta Favela.

Tóquio, Nova York, Mumbai, São Paulo, Moscou, Cairo, Xangai: essas são algumas das cidades com mais de 10 milhões de habitantes definidas pela Organização das Nações Unidas (ONU) como megacidades. "Elas articulam a economia global, ligam as redes informacionais e concentram o poder mundial", diz o cientista social Manuel Castells. Por isso, há tanta gente vivendo no mesmo espaço. É nas regiões mais urbanizadas que se encontram as melhores oportunidades de emprego e renda, bem como de acesso à Educação, saúde, lazer e cultura. Mas nessas aglomerações há também os maiores desafios de gestão socioambiental. (...) "precisamos discutir o destino do lixo e do esgoto domésticos e a qualidade do transporte público. Também temos de debater a falta de áreas verdes e a questão das moradias em locais irregulares", diz Pedro Jacobi, professor da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP). (...) "Na construção de cidades sustentáveis, colocamos centralmente o resgate de melhores condições de vida prejudicadas pelo crescimento desordenado", diz Marta Romero, urbanista e professora da Universidade de Brasília (UnB).

Em 1987, a expressão "desenvolvimento sustentável" apareceu no relatório Nosso Futuro Comum, também conhecido como Relatório Brundtland, elaborado pela Comissão Mundial de Meio Ambiente e Desenvolvimento. Segundo o documento, "desenvolvimento sustentável é aquele que atende às necessidades do presente sem colocar em risco a possibilidade das gerações futuras".

O impacto do Relatório Brundtland e a organização cada vez maior dos movimentos ambientalistas culminaram na Conferência Eco-92, realizada na cidade do Rio de Janeiro. A Agenda 21, que sintetiza as propostas da conferência, é um marco porque consagrou a ampliação do conceito de sustentabilidade, que passou a agregar as dimensões social e econômica. Desde a Eco-92, a sustentabilidade não significa apenas usar de forma consciente e eficiente os recursos naturais. "Sustentabilidade é também redução dos níveis de pobreza, criação de emprego e renda, redução das desigualdades e da violência e democratização das informações e decisões", explica a socióloga Lúcia Ferreira, do Núcleo de Estudos e Pesquisas Ambientais da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

Quando a discussão sobre a qualidade de vida nas áreas urbanas ganhou força, em meados da década de 1970, pensava-se que o único jeito de minimizar os impactos ambientais e os problemas sociais era impedir o crescimento das cidades. No entanto, as tentativas de manter as pessoas no campo, por razões econômicas e culturais, foram frustradas. Para Lúcia Ferreira, as cidades são indiscutivelmente polos de atração. "Mandar as pessoas de volta a seus locais de origem não resolve. É o momento de rever as políticas públicas", diz.

Não há uma receita para o sucesso, porém boas práticas adotadas no Brasil e no exterior indicam que, sim, é possível escapar do colapso. Para isso, os gestores devem entender as cidades como organismos que precisam entrar em equilíbrio: "O consumo de recursos renováveis não pode exceder a capacidade de reposição deles. Assim como a taxa de emissão de poluentes não pode superar o ritmo de absorção e transformação por parte do ar, da água e do solo", diz Marta.

O arquiteto Carlos Leite, especialista em desenvolvimento sustentável, é otimista. Há mais de dez anos, ele viaja o mundo para conhecer alternativas sustentáveis em lugares separados não apenas pela distância geográfica, mas também pelas diferenças culturais.

Para ele, as cidades ideais não existem. "Elas são feitas por homens e refletem os problemas dos homens. Mas existem exemplos que evidenciam ser possível mudar e achar as fórmulas para construir cidades mais sustentáveis, onde o encontro das pessoas entre si e com o ambiente seja privilegiado".

Em época de imperativa preocupação com o desenvolvimento sustentável, é de destacar que dois terços do consumo mundial de energia se deem nas cidades, que são responsáveis por aproximadamente 75% de todos os resíduos gerados. Portanto, ao tratar de aquecimento global, é necessário falar de cidades mais sustentáveis.

O grande desafio estratégico do momento são as metrópoles. Se elas não funcionam bem, o planeta se torna inviável. Porém metrópoles contemporâneas compactas, como as capitais dos países escandinavos, propiciam maior desenvolvimento sustentável. A razão é esta: elas concentram tecnologia e novas oportunidades de crescimento e geram inovação e desenvolvimento. Eis o grande desafio apresentado às grandes cidades. Elas são o futuro do planeta urbano e devem ser vistas como oportunidades e não como problema. Virão delas as respostas para um futuro verde. As melhores são as que sabem se renovar e funcionam como um organismo. Quando adoecem, se curam, mudam. O caminho é refazê-las, em vez de expandi-las, compactá-las, deixá-las mais sustentáveis e transformá-las numa rede estratégica de núcleos policêntricos compactos e densos.

As cidades desenvolvidas são as cidades sustentáveis, inclusive socialmente. Mais verdes e inclusivas. São normalmente as mais antigas, pertencentes aos países ricos. Ali os maiores dramas já foram resolvidos e agora há oportunidades e recursos para a implementação de melhorias que megacidades emergentes, como São Paulo e Xangai, ou países subdesenvolvidos, como Nigéria e Senegal, estão muito longe de poder buscar. É muito mais urgente para São Paulo, por exemplo, direcionar esforços e recursos para regenerar territórios centrais e dotá-los de habitações construídas rapidamente por meio de sistemas industrializados do que se preocupar com a arborização e o mobiliário urbano de bairros ricos. Não há cidade sustentável sem a desejável sociodiversidade territorial.

*Adaptado do texto: "Os desafios da sustentabilidade em grandes cidades", de Ana Paula Severiano.



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Infográfio: A viagem do lixo
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Fonte: Revista Nova Escola

 

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